Revisão
Cognições inadequadas ou disfuncionais –
pensamentos automáticos e crenças – estariam na base de uma variedade de desordens
psicológicas. apontou que muitos problemas vivenciados dentro do casamento também poderiam
estar relacionados às cognições disfuncionais de ambos os parceiros. Alguns estudos ratificaram
essa hipótese sobre o papel negativo dos pensamentos, crenças, expectativas, atribuições, entre
outros, na qualidade dos relacionamentos maritais.
Os pensamentos automáticos vêm sendo concebidos como idéias ou imagens que passam
despercebidas e de forma muito rápida na mente das pessoas. Esses pensamentos por si sós não
são adequados ou inadequados. Devido ao fato de esses tipos de pensamento não serem sempre
racionalmente avaliados, eles tendem a ser aceitos como algo razoável, em situações específicas.
Tem sido apontado que esse fluxo de idéias instantâneas, que pode passar na cabeça de um dos
cônjuges, pode influenciar seus estados emocionais e suas ações negativamente. Por exemplo,
quando uma esposa não recebe a atenção que gostaria de receber de seu marido, a respeito de
um problema de trabalho, pode chegar à seguinte conclusão: “ele nunca me ouve”. Nessa
situação, a parceira pode sentir raiva e gritar com seu companheiro, dizendo que ele é um
imprestável.
Os pensamentos automáticos disfuncionais podem ser influenciados por distorções cognitivas.
Estas seriam distorções sistemáticas no processamento da informação, falhas de interpretação e
raciocínios desprovidos de lógica. A leitura mental, por exemplo, é um tipo
de distorção segundo a qual uma pessoa acredita ser capaz de ler os pensamentos de alguém. Por
exemplo, quando um homem está falando com a esposa e essa boceja por estar cansada, ele pode pensar: “ela está achando chato conversar comigo”. Ele, então, pode ficar magoado e evitar
sua parceira ao longo do dia. Existem inúmeras outras distorções relatadas na literatura
especializada que podem ter influência sobre o relacionamento de casais, estudos apontaram que o surgimento das crenças intermediárias e centrais ocorre
durante a interação das crianças com pessoas significativas em suas vidas e estão associadas a
fatores sócio-culturais. São idéias que uma pessoa tem sobre si mesma, sobre as pessoas de uma
maneira geral, sobre o mundo, sobre relacionamentos, entre outros aspectos. Crenças mais
centrais têm maior impacto sobre o pensamento de uma forma geral, são mais rígidas e mais
difíceis de mudar do que crenças mais periféricas. Ambos os tipos podem ser inadequados e levar
ao aumento de conflitos em um relacionamento amoroso. Por exemplo, um marido pode ter a
seguinte crença central, “não sou uma pessoa digna de ser amada”. Para tentar não acreditar
nesse pensamento, o esposo pode desenvolver uma crença intermediária do tipo, “se eu sempre
recebo apoio em todas as minhas decisões, então eu sou amado”, ou do tipo “se minha esposa
não concorda comigo a todo o momento, então estou sendo rejeitado”. Uma vez que a esposa não
endossa todas as idéias do marido, este pode ficar triste e não expressar seus pensamentos, por
acreditar que realmente não pode ser amado por alguém.
A atenção seletiva é entendida como um processo de percepção no qual uma pessoa capta
informações de uma situação de acordo com categorias que fazem sentido ao seu ponto de vista.
Além disso, ignora os dados que não se encaixam em seu perfil de relacionamento. Por exemplo,
uma mulher quando acredita que é fraca, pode ficar atenta aos comportamentos do seu marido
que julgue serem de dominação. Quando ela pede ao parceiro para visitar os pais dela, e ele não
quer ir, a esposa pode pensar que ele nunca atende aos seus desejos por não respeitá-la. Então,
ela pode sentir-se frustrada e passar a evitar o marido. Entretanto, o parceiro não aceitou o
convite por estar sentindo enxaqueca. Em diversas situações, essa mulher busca fazer diferentes
solicitações que em sua maioria são atendidas pelo marido. Contudo, ela geralmente presta
atenção aos seus próprios desejos, que ele não atende
Tratamento
Pode-se afirmar que os principais objetivos da terapia cognitivo-comportamental, no tratamento
de casais em conflito, são a reestruturação de cognições inadequadas, o manejo das emoções, a
modificação de padrões de comunicação disfuncionais e o desenvolvimento de estratégias para
solução de problemas cotidianos mais eficazes. Outros procedimentos utilizados
são as alterações de comportamentos que formam padrões negativamente específicos.
A avaliação é normalmente a etapa inicial e fundamental do tratamento de problemas de qualquer
natureza dentro da abordagem cognitivo-comportamental São utilizados diferentes tipos de
entrevistas, inventários e escalas. Um instrumento de avaliação muito utilizado nos Estados
Unidos é o Relationship Belief Inventory - RBI (Eidelson & Epstein, 1982). Outra escala bastante
empregada é a Dyadic Adjustment Scale – DAS (Spainer, 1976; Spanier & Thompson, 1982).
Alguns instrumentos foram validados para a população brasileira, como o Inventário de Satisfação
Conjugal (Dela Coleta, 1989) e a Medida da Satisfação em Relacionamento de Casal (Wachelke,
Andrade, Cruz, Faggiani & Natividade, 2004).
Usualmente, a primeira sessão é realizada com a presença de ambos os cônjuges. Essa é uma
oportunidade para o terapeuta verificar as áreas problemáticas no relacionamento, a interação
entre o casal, o modo como eles se comunicam, os pontos fortes da relação, os fatores externos
que possam estar estressando os parceiros etc. As informações que são obtidas nessa sessão irão
auxiliar no processo de formulação de hipóteses preliminares sobre os motivos do conflito
conjugal. Após a entrevista inicial, duas sessões costumam ser conduzidas. Cada uma contando com a
presença de apenas um dos parceiros. O objetivo seria coletar informações que talvez não tenham
sido apresentadas inicialmente. Um parceiro poderia ficar inibido na presença do outro e não
revelar situações como, por exemplo, abuso na infância, violência intrafamiliar, adultério e desejo
de se divorciar. Algumas questões éticas se impõem nessas entrevistas individuais. As
informações prestadas nessas sessões só podem ser reveladas com a autorização dos
participantes, exceto em alguns casos específicos. Por exemplo, no caso de violência física é
necessário que o cônjuge abusado seja encaminhado para instituições competentes.
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