domingo, 19 de março de 2017

Violência psicológica: o que é isso?

A violência contra a mulher, nos dias atuais, é vista como um problema de saúde pública, mas nem sempre foi assim. Anteriormente à discussão de gênero , durante séculos, a mulher em condição de violência, não possuía auxilio e/ou socorro de quem quer que fosse, submetendo-se e conformando-se com seu destino. Historicamente e, até décadas atrás, muitas mulheres achavam que padecer pela violência imputada pelo seu cônjuge e/ou companheiro era uma coisa normal, já que sua mãe também a sofria pelo marido. Desta forma, a violência se propagava por muitas gerações, de forma cíclica, através do modelo patriarcal oprimindo e alienando-as. Neste sentido, a violência sempre foi a principal forma de dominação masculina, visto que o homem, de uma forma geral, não visava a eliminação da mulher, mas sim dominá-la a fim de mantê-la sob controle restrito ao ambiente doméstico.

O homem pratica a violência de uma forma que,  denominam como um processo regular, de quatro fases, definido como “tensão relacional, violência aberta, arrependimento e lua-de-mel”. A violência doméstica contra a mulher, no Brasil, atualmente, é considerada como crime preconizada na Lei “Maria da Penha”, de nº. 11.340/2006. As principais formas de violência doméstica contra a mulher definidas por esta Lei são: Física, Sexual, Psicológica, Moral e Patrimonial. A violência física pode ser compreendida como qualquer tipo de ação que ofenda a integridade e a saúde corporal da mulher. A violência sexual é qualquer tipo de relação sexual não desejada pela mulher e sendo intimidada e forçada a realizá-la. A Lei também preconiza, como violência à mulher, a violência moral, que consiste em “[...] qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria”; e a violência patrimonial, que pode ser considerada como “[...] qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus bens pessoais”. Dominação-vitimação: a violência psicológica A violência psicológica é caracterizada pela Lei em vigor como “[...] qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto estima, ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento [...]”. O fato da violência psicológica, finalmente, ser reconhecida através de uma Lei, constitui-se um importante avanço no combate a todos os outros tipos de violência. Mas, de outro lado, a violência psicológica ainda está longe de ser considerada pelos serviços públicos de saúde e instituições policiais como uma problemática social grave. 

Muitas pessoas nem sequer conhecem as expressões da violência psicológica. Tal condição é resultado da ideologia romântica que possuem sobre família, ou seja, a família deve viver em harmonia e, os que não se enquadram a esse padrão são considerados “desestruturados”. Na efetivação da harmonia familiar, muitas vezes, há um processo de naturalização da ofensa verbal, ou seja, para muitos homens “é normal” ofender verbalmente a mulher, tratando-a como propriedade, concebendo, através de uma perspectiva confessional, que foi para isso que ele foi criado, para ser o mantenedor da família e, conseqüentemente, o “dono” da mesma. Felizmente essa concepção, posta na relação afetiva entre homem e mulher está se alterando, apesar do lento ritmo em que isto procede, mas, a perspectiva de mudança, por si mesma, já é um avanço considerável.  





Femme fatale: a verdade nua e crua da sexualidade feminina!

A sexualidade, a feminina em especial, foi, e ainda o é, apesar de atualmente vivermos sob outros padrões de moral, ética e comportamento, objeto de interdição em vários campos. Isto porque o processo de formação da nossa sociedade recebeu forte influência da sociedade ocidental européia que, pautada na ética e na moral do Cristianismo, concebeu o corpo e o sexo como lugar de interditos. A mulher, pela sua condição desigual em relação ao homem, por muitos anos viveu sob a sua tutela, em primeira instância do pai e em segunda do marido, com sua sexualidade normatizada pelos padrões Cristãos, legitimada pela instituição do casamento e pelo cumprimento da função reprodutora.
No entanto, a sexualidade deve ser vivida de forma igualitária pelo homem e pela mulher, e o desfrutar de uma vida sexual boa e saudável vai propiciar felicidade e bem-estar.
A área da saúde, pela forte influência do modelo biomédico sustentado no discurso cartesiano da separabilidade e redução da complexidade dos fenômenos, acabou por contribuir no reforço do discurso da sexualidade como fenômeno biológico, senão estrito pelo menos de forte domínio desta dimensão, na abordagem dos problemas de saúde afeitos à sexualidade. A visão médica de caracterização de doenças para uma adequada intervenção ainda permanece forte e majoritária na atenção às questões da complexa teia que envolve a sexualidade humana. A sexualidade como forma de expressão natural do homem ainda é pouco valorizada na prática da assistência à saúde. É necessário considerar que a sexualidade possui uma dimensão exclusivamente humana na qual interagem os fenômenos de prazer, emoção, afetividade e comunicação, merecendo tratamento interdisciplinar.
O tema sexualidade faz parte de uma das prioridades das políticas públicas de atendimento à mulher. No entanto, a abordagem centra-se no diagnóstico e tratamento de problemas de saúde, não necessariamente abarcando toda a complexidade que o tema exige. Ainda mais, ressalta-se que tal atendimento, via de regra, se dá individualmente, nas consultas ginecológicas a partir da demanda espontânea de cada mulher que, na maioria significativa das vezes, a restringe ao campo delimitado da doença e/ou da restauração do funcionamento dos órgãos. Pode-se também ressaltar que o atendimento no âmbito privado do consultório não privilegia uma discussão coletiva entre as próprias mulheres, o que, certamente, a partir do compartilhamento de experiências comuns, possibilitaria o desenvolvimento da percepção de que suas outras demandas não estão propriamente relacionadas a problemas originalmente seus, mas integram um conjunto muito próprio da condição feminina e da vivência de ser mulher. Ainda mais, a discussão coletiva privilegia a socialização das soluções dos problemas, retirando-os do universo individual de cada mulher.


A vontade da mulher pela prática do ato sexual e o orgasmo feminino

As falas sobre a sexualidade foram remetidas para a relação sexual que congregou a discussão em torno de diversas problemáticas que abarcaram o encontro íntimo entre os parceiros. As discussões foram iniciadas com as falas sobre a vontade da mulher pela prática do ato sexual, o que mereceu análise específica.
Vontade é uma palavra que abarca amplos sentidos e sinônimos. Sendo assim, vontade está relacionada a desejo, intenção, intento, decisão, propósito, determinação, resolução, deliberação, desígnio/empenho, dedicação, desvelo, zelo, cuidado, necessidade, querer, apetite, gosto, satisfação e energia, entre alguns outros.
Desejar direciona-se sempre a alguma coisa ou alguém. É sentir falta, carência. É buscar um preenchimento, uma satisfação no objeto ou na pessoa desejada. O desejo não é uma necessidade, ainda que possamos senti-lo com igual ou maior força do que a necessidade.9
O desejo sexual hipoativo ou inibido, no campo da clínica e da psicologia é uma deficiência ou ausência de fantasias sexuais e de desejo pela atividade sexual, causando angústia e dificuldades interpessoais. É a disfunção sexual mais comum, tanto em homens quanto em mulheres; porém, é a mais difícil de tratar. As mulheres com esse distúrbio têm pouco interesse em buscar estímulos sexuais, mas geralmente possuem a habilidade de se excitar sexualmente e alcançar o orgasmo, uma vez estimuladas sexualmente. Geralmente, ocorre na vida adulta, freqüentemente após um período de interesse e função sexual adequados. Algumas pessoas podem apresentar aversão sexual, evitando completamente qualquer atividade sexual com um parceiro.

 As situações do cotidiano feminino como o cansaço, o stress e as inúmeras preocupações que circundam o universo feminino foram apontados pelas mulheres como sendo fatores influenciadores para a falta de vontade para o sexo.
"Às vezes estou estressada e dou sem ter vontade. Quando estou cansada ou preocupada com alguma coisa". (SIC)
O motivo pelo qual existe essa indisposição foi relacionado inicialmente às próprias atividades cotidianas, ou seja, o esforço das mulheres na luta diária, numa tentativa de garantir com seu trabalho a independência, sua afirmação pessoal e profissional, mas que consequentemente repercutem negativamente nas suas condições de saúde.11 Isto pode ser observado no seguinte depoimento: "eu trabalho em casa, mas faço um trabalho com a Pastoral da Criança, porque na Paróquia todo o trabalho é excessivo, muita preocupação e tem o trabalho de casa também. Acredito que seja isso. Então pra sexo eu ultimamente tô meio parada. Estacionei num lugar e não quero nada com ninguém". (SC)

Esses são alguns exemplos do cotidiano das mulheres e suas vivências com sexualidade feminina.