domingo, 19 de março de 2017

Femme fatale: a verdade nua e crua da sexualidade feminina!

A sexualidade, a feminina em especial, foi, e ainda o é, apesar de atualmente vivermos sob outros padrões de moral, ética e comportamento, objeto de interdição em vários campos. Isto porque o processo de formação da nossa sociedade recebeu forte influência da sociedade ocidental européia que, pautada na ética e na moral do Cristianismo, concebeu o corpo e o sexo como lugar de interditos. A mulher, pela sua condição desigual em relação ao homem, por muitos anos viveu sob a sua tutela, em primeira instância do pai e em segunda do marido, com sua sexualidade normatizada pelos padrões Cristãos, legitimada pela instituição do casamento e pelo cumprimento da função reprodutora.
No entanto, a sexualidade deve ser vivida de forma igualitária pelo homem e pela mulher, e o desfrutar de uma vida sexual boa e saudável vai propiciar felicidade e bem-estar.
A área da saúde, pela forte influência do modelo biomédico sustentado no discurso cartesiano da separabilidade e redução da complexidade dos fenômenos, acabou por contribuir no reforço do discurso da sexualidade como fenômeno biológico, senão estrito pelo menos de forte domínio desta dimensão, na abordagem dos problemas de saúde afeitos à sexualidade. A visão médica de caracterização de doenças para uma adequada intervenção ainda permanece forte e majoritária na atenção às questões da complexa teia que envolve a sexualidade humana. A sexualidade como forma de expressão natural do homem ainda é pouco valorizada na prática da assistência à saúde. É necessário considerar que a sexualidade possui uma dimensão exclusivamente humana na qual interagem os fenômenos de prazer, emoção, afetividade e comunicação, merecendo tratamento interdisciplinar.
O tema sexualidade faz parte de uma das prioridades das políticas públicas de atendimento à mulher. No entanto, a abordagem centra-se no diagnóstico e tratamento de problemas de saúde, não necessariamente abarcando toda a complexidade que o tema exige. Ainda mais, ressalta-se que tal atendimento, via de regra, se dá individualmente, nas consultas ginecológicas a partir da demanda espontânea de cada mulher que, na maioria significativa das vezes, a restringe ao campo delimitado da doença e/ou da restauração do funcionamento dos órgãos. Pode-se também ressaltar que o atendimento no âmbito privado do consultório não privilegia uma discussão coletiva entre as próprias mulheres, o que, certamente, a partir do compartilhamento de experiências comuns, possibilitaria o desenvolvimento da percepção de que suas outras demandas não estão propriamente relacionadas a problemas originalmente seus, mas integram um conjunto muito próprio da condição feminina e da vivência de ser mulher. Ainda mais, a discussão coletiva privilegia a socialização das soluções dos problemas, retirando-os do universo individual de cada mulher.


A vontade da mulher pela prática do ato sexual e o orgasmo feminino

As falas sobre a sexualidade foram remetidas para a relação sexual que congregou a discussão em torno de diversas problemáticas que abarcaram o encontro íntimo entre os parceiros. As discussões foram iniciadas com as falas sobre a vontade da mulher pela prática do ato sexual, o que mereceu análise específica.
Vontade é uma palavra que abarca amplos sentidos e sinônimos. Sendo assim, vontade está relacionada a desejo, intenção, intento, decisão, propósito, determinação, resolução, deliberação, desígnio/empenho, dedicação, desvelo, zelo, cuidado, necessidade, querer, apetite, gosto, satisfação e energia, entre alguns outros.
Desejar direciona-se sempre a alguma coisa ou alguém. É sentir falta, carência. É buscar um preenchimento, uma satisfação no objeto ou na pessoa desejada. O desejo não é uma necessidade, ainda que possamos senti-lo com igual ou maior força do que a necessidade.9
O desejo sexual hipoativo ou inibido, no campo da clínica e da psicologia é uma deficiência ou ausência de fantasias sexuais e de desejo pela atividade sexual, causando angústia e dificuldades interpessoais. É a disfunção sexual mais comum, tanto em homens quanto em mulheres; porém, é a mais difícil de tratar. As mulheres com esse distúrbio têm pouco interesse em buscar estímulos sexuais, mas geralmente possuem a habilidade de se excitar sexualmente e alcançar o orgasmo, uma vez estimuladas sexualmente. Geralmente, ocorre na vida adulta, freqüentemente após um período de interesse e função sexual adequados. Algumas pessoas podem apresentar aversão sexual, evitando completamente qualquer atividade sexual com um parceiro.

 As situações do cotidiano feminino como o cansaço, o stress e as inúmeras preocupações que circundam o universo feminino foram apontados pelas mulheres como sendo fatores influenciadores para a falta de vontade para o sexo.
"Às vezes estou estressada e dou sem ter vontade. Quando estou cansada ou preocupada com alguma coisa". (SIC)
O motivo pelo qual existe essa indisposição foi relacionado inicialmente às próprias atividades cotidianas, ou seja, o esforço das mulheres na luta diária, numa tentativa de garantir com seu trabalho a independência, sua afirmação pessoal e profissional, mas que consequentemente repercutem negativamente nas suas condições de saúde.11 Isto pode ser observado no seguinte depoimento: "eu trabalho em casa, mas faço um trabalho com a Pastoral da Criança, porque na Paróquia todo o trabalho é excessivo, muita preocupação e tem o trabalho de casa também. Acredito que seja isso. Então pra sexo eu ultimamente tô meio parada. Estacionei num lugar e não quero nada com ninguém". (SC)

Esses são alguns exemplos do cotidiano das mulheres e suas vivências com sexualidade feminina.








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