Para alguns indivíduos, uma mulher
independente é praticamente desprovida de sentimentos, ou que talvez a característica da
independência seja vista como incompatível com as atitudes esperadas por parte da mulher
pelo senso comum. Dessa forma, é possível problematizar que, ainda, são imaginados
papeis para os atores femininos e, nesse sentido, a independência reduziria o lado
emocional e maternal da mulher. Assim, não há como negar uma visão estereotipada do
sexo feminino, que ainda é vinculado a representações culturais estigmatizadas voltadas ao
cumprimento de papeis.
Acreditar que a postura da senhora não se trata de um
pensamento arcaico, mas atual: “ainda há quem acredite que ser um bibelô (ou fazer-se de)
tem lá suas vantagens”. Frente a essa visão, a cronista argumenta que a independência
feminina é estimulante, alegre, desafiadora, vital, promovendo movimentação e avanço à
sociedade como um todo, e finaliza constatando que talvez haja, no imaginário masculino,
uma insegurança resultante dessa independência feminina. Entretanto, na percepção da
autora, embora as mulheres estejam dizendo menos “eu preciso de você”, estão
pronunciando mais verdadeiramente o “eu amo você”. Isso significa que, ao lado da
independência, há também um movimento que permite às mulheres serem mais
verdadeiras, não escondendo os seus reais sentimentos em prol do cumprimento de papeis
impostos pela sociedade.
A partir da análise da crônica, percebe-se que a sociedade ainda não está
plenamente amadurecida no sentido de valorizar igualmente os sexos e aceitar uma relação
de complementaridade e não de sujeição entre eles. Isso é evidente quando se verificam
atitudes que refletem pensamentos estigmatizados em relação às mulheres, que ainda
contribuem para uma imagem preconceituosa a respeito do ser feminino.
Embora o feminismo seja um movimento recente, muito se tem falado, na atualidade,
sobre gênero e identidade. As últimas pesquisas realizadas na área surgem na esteira de
que ainda existe uma visão estereotipada da mulher e da sua atuação na sociedade. Assim,
contrariando o que muitos teóricos culturais expõem a respeito da igualdade entre os sexos,
parece haver, no senso comum, mesmo que de forma dissimulada, uma ideia de sujeição
da mulher em relação ao homem, ou seja, uma noção injustificável de inferioridade do ser
feminino. Em muitos episódios da vida cotidiana esse fato pode ser identificado. O texto leva a refletir sobre o estranhamento que algumas atitudes suscitam
quando características do comportamento humano são atribuídas ao universo feminino.
Assim, porque a independência feminina causa estranhamento ou até mesmo temor? Se
essa característica é ‘nobre’ quando aplicada aos homens e ‘temerosa’ quando se aplica às
mulheres, é evidente que há, no imaginário popular, uma visão deturpada do feminino, que
reflete pensamentos estigmatizados e preconceituosos, mostrando uma sociedade ainda
não amadurecida no tocante à igual valorização dos seus membros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário