A perda de um cônjuge:
O luto é um quadro clínico que apresenta sinais e sintomas específicos, tanto emocionais quanto cognitivos e comportamentais,
diferentes dos quadros de depressão. Os casos de luto decorrente
de morte imprevista, assim como aqueles que envolvem a morte de
um companheiro de longa data, apresentam particularidades que
serão importantes na condução do planejamento terapêutico.
Enquanto a rede de apoio social, mais do que a qualidade do
relacionamento com o cônjuge, exerce influência sobre a depressão
e outros sintomas do luto, a qualidade dessa relação afeta a saudade
percebida após a perda. Entre jovens, é relatada maior incidência de
depressão e alcoolismo nos dois anos seguintes a perdas por morte
imprevista.
No caso de morte de cônjuge, os parceiros sobreviventes sofrem
grande pressão social para rapidamente retornarem às suas
rotinas, tendo seus recursos internos fortemente mobilizados para
conseguirem lidar com a tristeza e, simultaneamente, retomarem
sua funcionalidade. Pacientes em luto apresentam maior incidência
de problemas psicossomáticos, busca por atendimento médico
para queixas orgânicas e maior número de internações do que a
população geral.
Estudos voltados para terapêutica do luto ainda são escassos na literatura,
sendo ausentes estudos sobre a eficácia da terapia cognitivo-
-comportamental para luto, considerando as particularidades enfrentadas
por aqueles que sofrem com a perda súbita de seus cônjuges.
Por meio do atendimento com enfoque cognitivista-comportamental,
foi possível a obtenção de melhora em todas as medidas de
avaliação realizadas: depressão, ansiedade, esperança em relação ao
futuro, estresse, habilidades sociais, distúrbios do sono e distúrbios
psicossomáticos. O acompanhamento do progresso obtido por meio
de instrumentos psicométricos validados, com boa fidedignidade
e com normas estabelecidas para a população brasileira garante a
qualidade da avaliação realizada.
O período mais propício para prevenção de episódios depressivos
após o luto é aquele próximo à ocorrência da morte; desse modo,
o fato de a paciente ter iniciado o acompanhamento terapêutico
dois meses após a perda pode ser sido benéfico. São necessários,
no entanto, novos estudos para avaliar a real influência do período
transcorrido após a perda na eficácia terapêutica, não apenas em
relação à profilaxia de episódios depressivos, mas também em relação
a outros sinais e sintomas do luto.
O estudo de caso apresentado colabora para a ampliação dos
limites da terapia cognitivo-comportamental, apresentando bons
resultados para o tratamento específico de um quadro de luto decorrente
da morte súbita de cônjuge.
Os estágios:
No primeiro estágio, a negação e o isolamento servem
como um mecanismo de defesa temporário, um para-choque
que alivia o impacto da notícia, uma recusa a confrontar-se
com a situação. Ocorre em quem é informado abruptamente
a respeito da morte; embora considerado o primeiro estágio,
pode aparecer em outros momentos.
A raiva, segundo estágio, é o momento em que as
pessoas externalizam a revolta que estão sentindo. Neste
caso, tornam-se por vezes agressivos. Há também a procura
de culpados e questionamentos, tal como: “Por que ele?”, com
o intuito de aliviar o imenso sofrimento e revolta pela perda.
Já a barganha, percebida no terceiro estágio de reação à
perda, é uma tentativa, de negociar ou adiar os temores diante
da situação; as pessoas buscam firmar acordos com figuras
que segundo suas crenças teriam poder de intervenção sobre
a situação de perda. Geralmente esses acordos e promessas
são direcionados a Deus e mesmo aos profissionais de saúde
que a acompanham.
A depressão, quarto estágio, é divida em preparatória e
reativa. A depressão reativa ocorre quando surgem outras perdas
devido à perda por morte, por exemplo, a perda de um emprego
e, consequentemente, um prejuízo financeiro, como também a
perda de papéis do âmbito familiar. Já a depressão preparatória
é o momento em que a aceitação está mais próxima, é quando
as pessoas ficam quietas, repensando e processando o que a
vida fez com elas e o que elas fizeram da vida delas.
Tratamento:
O objetivo terapêutico na Terapia Cognitivo-Comportamental
perante uma situação de luto por perda repentina
tem como base, identificar recursos disponíveis e
avaliar quais são as principais preocupações do paciente.
Num primeiro momento, recomenda-se defini-las; por
seguinte, priorizá-las; e, por fim, abordá-las, levando em
consideração e avaliando a rede de apoio social e auxiliando
na tomada de decisões, pois possivelmente o enlutado
encontra-se em estados psicológico e emocional prejudicados.
A maioria das pessoas que passam por situações de estresse, como a perda de um ente querido,
desenvolve respostas de enfrentamento desadaptativas,
ou seja, uma estratégia que a pessoa apresenta em certas
circunstâncias para conseguir lidar com o evento
traumático. De acordo com estudos em algum momento os Esquemas Iniciais Disfuncionais
(EIDs) latentes, caracterizados por um conjunto de crenças
globais e enraizadas, com pressuposições e regras acerca do
mundo, podem ser ativados devido a uma situação, alterando e
predominando sobre humor bem como sobre o comportamento
de um indivíduo.
Os mesmos autores afirmam que lutar, fugir, paralisar-se
são as principais respostas à ameaça. Nos esquemas, essas
respostas são denominadas de: 1) hipercompensação: quando
eles lutam contra o esquema pensando, agindo, sentindo
como se o oposto do esquema fosse verdadeiro; 2) evitação:
os pacientes organizam suas vidas para que o esquema não
seja ativado, bloqueiam pensamentos e imagens para evitar
sentimentos ativados pelo esquema; e 3) resignação: quando
os pacientes consentem o esquema, aceitam como verdadeiro,
não tentam evitar nem lutar contra ele. É através desses processos
que os esquemas continuam ativos na vida psíquica
de um indivíduo.